Dia normal, desses que a gente levanta cedo e deita tarde.
As roupas ainda estavam no varal. O sol estava por nascer.
Uma última palavra: Boa noite amor!
No dia seguinte, as mesmas ocupações. Sem almoço ou qualquer coisa que
me dessa sensação de preenchimento.
Logo veio a noite, momento de desacelerar.
Ela não ligou... Normal, pensei eu.
Outro dia e as mesmas ocupações. Correria, concentração, pouca
disposição.
Novamente sem almoço. Pouco normal, mas dentro da curva média, pensei
eu.
Veio a noite, veio o sono, veio o sonho e quando percebi, já era de
manhã.
A roupa ainda estava no varal.
Novo dia para a velha ocupação.
Dessa vez se não vier almoçar, também não comerei.
Chegou a noite, chegou sozinha. Ela não estava em lugar nenhum.
Pensei em ligar. Apenas pensei.
Como pode alguém sumir assim?
Mas a roupa ainda estava no varal.
Amanheceu o novo dia. Gosto amargo na boca. Já sei, são as palavras não
ditas (ou palavras malditas?).
Será que deveria ter ligado? Pensamento retroativo.
Sem almoço. Mas pera lá. O que está havendo?
Acho que vou pra casa, e lá penso o que devo fazer.
Cheguei.
Cheiro diferente. Meu Deus, ela esteve aqui.
Corri ao varal.
A roupa não mais estava lá.
Ladrão... Ladrão!
Roubou-me na calada.
Entrou no meu espaço e levou a tal da garantia.
Roupa, presença, verdade palpável.
A cama ficou vazia (já estava, na verdade).
A comida se perdeu na geladeira.
Se foi sem avisar (ou cansou-se de avisar?).
Para onde? Porque? Mas assim?
Vou ou não vou? Ligo ou não ligo?
Digo ou não digo?
Digo que mais uma vez ela não foi digna de confiança, que fez
direitinho o seu papel.
Ladra, leviana.
Interesseira... Mal agradecida!
Sei lá.
Ainda bem que não levou minha esperança.
Porque esta não estava ao seu alcance. Aliás, nunca esteve.
Minha consciência jaz tranquila na certeza de que fui o que me propus a
ser.
Não lhe fui porto seguro? Que pena. Espero que não mais adoeça nem
precise de dinheiro.
Não lhe fui um companheiro? Que triste. Espero então que as noites de “Espeto
e Viola” sejam lhe eternas.
Agora... Se lhe restasse o mínimo de resiliência, e sendo o que não é, se pusesse em meu lugar. Como veria
tal situação?
Vesúvio dentro de mim.
Agora sinto culpa.
Por deixar você me fazer vontade de jogar fora as fotos ( quase me
esqueci que já as joguei, perece apenas “refugo”).
Por perceber que nada nada foram dois anos perdidos.
Por ter de anunciar esse dessabor a minha sagrada família.
Por ter deixado pessoas tão interessantes de lado.
Importante é não sofrer.
É desejar-lhe a recompensa devida por seus atos.
E prosseguir. Sem roupa no varal.
E prosseguir. Sem insatisfação e sem o ridículo senso de rivalidade.
E prosseguir, para o que me espera. Para aquilo que quero ( e mereço).
Fui...
Sem roubar nada, nem ninguém!
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