terça-feira, 27 de maio de 2014

DECEPÇÃO... 



Dormi com ela esta noite. Sim, aliás, passou o fim de semana comigo.

Juro que poderia encontrar companhia melhor, mas preferi mantê-la por perto, por ser ela tão verdadeira comigo.

Disse-me coisas a meu respeito, como se me conhecesse-se de longa data. Eu ali, aflito por encontrar razão em cada ato que ela me demonstrava. Falou- me de pessoas, impedindo-me de argumentar.

Disse o que me servia, enquanto deixava claro sobre coisas que eu nem precisava.

Riu de mim, riu de como estava sendo deveras complacente. De como eu estava fingindo, fantasiando, não me deixando atingir por algo que já me atravessava.

Chamou-me de bobo.
Chamou-me de louco.

Fingi que não era comigo, porém, quanto mais ignorava sua voz e seu veneno, mais dura ela ficava, aumentando o tom da voz, quase me agredindo.

"Pra que isso?" Perguntei atônito. "Ora, pra que você acorde!" Respondeu ela.

Acordar do que se sabia que não estava dormindo.
Confesso que ela me confundiu. Não trouxe clareza em seu discurso; não foi maleável, nem resiliente.

Foi quando descobri que estava na verdade atravessado por ela própria. Não havia nada de novo. Não havia nada de belo. Só ela, ali, nua.

Vigarista, vadia, imunda.

Ela sorriu com um olhar de morte e pareceu se tranquilizar.
"Então é assim? Questionei". "Nada de novo pra mim?".
Nada de novo, nada de novo...

"Que graça tem então?".

"Ora, deve haver graça em me manter por tanto tempo."

"Garante-me o sustento, apoia-me naquilo que quero..."
Pedi que me agradecesse então, haja vista uma tomada de consciência tão salutar.

Não, foi o que ela me disse. 

"Não agradeço, não me despeço, apenas o mantenho!"

Imbecil, prepotente, infeliz.

Eu sorri e por fim demonstrei entender.

Esse era o seu jogo, esse o seu apego.

O lugar que eu concedia a ela era exatamente o lugar que ela se estabelecia.

Eu e ela, assim...

Eu e ela, juntos, consumidos por um ímpeto de agressão e prejuízo mútuo.

Verdade simbólica.

Curioso como tudo parece fazer sentido agora.

Me acompanhou quando fui agredido.
Permaneceu quando decidi não fazer o mesmo.

Está aqui agora, e ainda que queira, não saberei dizer
quando irá embora.


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