domingo, 6 de maio de 2018

ME DIZ PORQUE CÊ FOI EMBORA...


Olá, gostaria de conversar, sei lá, acho que tenho tanto o que falar. Tem tempo que não te vejo, tanta coisa aconteceu. 

Eu tentei te ligar algumas vezes, você não me atendeu. Eu sei, eu te entendo. Sei que deveria estar em outra e deixar as coisas como estão, mas acredite, eu tenho deixado.  As coisas estão bagunçadas dentro de mim desde última vez que te vi. Sei que não sou um cara muito organizado, do tipo que consegue entender direito o porquê que as circunstâncias mudam. Engraçado, acho que na verdade a gente devia mudar, e não as circunstâncias... 

Vai ver foi isso que aconteceu com você né? Você mudou.

Mas e aí? Como você está? Na verdade estou só puxando papo para poder te escutar.
Juro que enquanto você fala da nova vida, dos sonhos realizados e tal, eu fico aqui, só querendo ouvir você explicar porque você foi embora. Não posso dizer a você que penso isso, pois sei que você acharia que eu estou querendo mexer no passado, em coisas que para você já não fazem mais sentido. Mas pra mim ainda faz...

Queria poder dizer que ainda tenho um carinho enorme por você, que os anos que vivemos juntos foram definitivamente os melhores da minha vida. Que hoje enxergo tudo com outros olhos, e posso entender todas as suas crises e todos os seus medos. Como gostaria de lhe provar que hoje eu sou aquele homem que você estava procurando em mim em todo aquele tempo, e talvez por não encontrar tenha ido embora.

Tá aí, um questionamento que continua em minha vida: Quando foi que a gente se perdeu? Qual foi o exato momento em que você se cansou de apostar em nós? Será que foi quando brigamos na viagem porque eu queria ouvir música sertaneja e você não suportou? Ou será que foi porque não aceitei jogar fora a lembrança na porta da geladeira que a moça me deu?

É, falando assim fica muito fútil, mas hoje eu sei que o que estava em jogo não era o gosto musical, muito menos uma simples atitude impulsiva de ciúmes. Estava em jogo a minha ausência de cumplicidade e censo de importância. Hoje sei que aquela era uma maneira sua de tentar me mostrar que havia algo dificultando as coisas entre nós. E eu não enxerguei. 

Talvez esse tenha sido o problema que a gente não resolveu.
Mas o tempo passou né? Puxa vida, quanto tempo? Dois anos ou mais...
Sorri ao ouvir você dizer que muita água passou por debaixo da ponte.  Sorri porque pensei: “Poxa, ah se você soubesse que a ponte foi na verdade interditada e que por cima dela nada nunca mais passou...”.

Essa interdição é velada, só aparece no silêncio que faço quando você me devolve a pergunta, querendo saber se tenho novidades. Eu mudo de assunto, volto para você, não por não ter nada a dizer, mas por julgar que nada que aconteceu em todo esse tempo na minha vida, pode ser classificado como novidade ou algo importante se levada em consideração a novidade da sua atenção e a importância que dou a este nosso diálogo, assim sem sal, assim online.

Se tivesse apostado quem de nós dois falaria de outro alguém primeiro, com certeza eu perderia. Fantasiei que em todo este tempo havia entre nós uma lei moral onde haveria uma proibição vitalícia de falar ou divulgar outro alguém. Foi isso que fiz até aqui.
Mas se tudo bem o mundo girou né? Não faz sentido pra ninguém financiar um pacto após um rompimento.
O jogo é assim e mais tarde tudo acaba sendo definitivamente  passado.
Me e aí, me diga o porquê mesmo você foi embora? Ah eu sei, não deveria perguntar isso né? Passei a impressão de que te quero de volta. E o pior, você achou isso um absurdo.

Respeito seu momento, respeito seu novo relacionamento, embora não veja sentido nele. Desculpa mas foi oque deu pra responder.

Chego ao momento crítico da conversa: Me despedir sem sustentar a ideia de um cara empacado à procura de atenção.

Confesso que nesse momento gostaria que o tempo parasse, para sempre...  Por sentir que pior que a sua ausência, é a sensação de ter passado uma imagem daquilo que eu não sou.
Agradeço por sua atenção. Você demonstra uma cortesia daquelas de secretária treinada.
Apatia reina.

Isso só me faz lembrar os dias chuvosos, do carinho da sua atenção. Do quanto fui importante e do quanto você foi doce. Sua indiferença aumenta a minha saudade, pois me faz apegar ainda mais àquela imagem sua que interdita tudo aqui dentro de mim.
Quanto mais diferente daquela que era minha, mais preso a ela eu pareço estar. Estranha ordem das coisas.

Mas apenas parece, não há o que assumir.
Termino então o diálogo sem nenhuma perspectiva real. Nada de novo para mim então...
No fundo penso que se você me dissesse o “porque de ter ido embora”, de certa forma estabeleceria um contato com aquela pessoa que você foi um dia. Daí o “porque de ter ido embora” se converteria fácil em “porque de não voltar agora”.
Remexo alguns entulhos.


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