sábado, 21 de fevereiro de 2009

bobo é a mãe...


Três meses depois e o sol ainda não raiou... O frio da indiferença parece soprar-me a alma. Realmente me fiz rogado e não a procurei mais, contudo, agindo desta forma, só deixei claro pra mim mesmo como essa garota ser tornou importante.
Em alguns casos a distancia aproxima as pessoas, em outros, as fazem sentir como se fossem enfermas, curando uma ferida latejante. Impossível não notá-la, impossível não se perder ao encontrá-la.
Havia dito a ela que sua presença me fazia tão bem... Não sei como ela interpretou esta exclamação, se tivesse entendido o óbvio, estaria aqui agora, permitindo que eu lhe falasse focando o fundo dos olhos.
Algumas tentativas de construção então foram feitas; convidei-a para ir ao cinema. Ao sair de casa, agarrei-me a Deus, como que se o resultado da noite me custasse à vida, de fato custou, custaram as ilusões que formei ao longo do trajeto, custou a boa impressão que insistia guardar a seu respeito, custou o pacote de pipoca superfaturado que comprei.
Ela estava linda, e o simples movimento de inspiração ao seu lado parecia arrebatar-me. Nunca alguém cheirou como ela.
O filme era propício... Uma produção hollywoodiana de ação e ficção... Perfeito pra mim que se fosse depender de clima romântico ao seu lado, seria a essa altura um de cujos.
Pois bem... No meio de bombas e confrontos iraquianos, eu estava ali, ao seu lado. Pensei em tocá-la... Olhei firme em sua direção... Ela respirava ofegante! Bom sinal pro até então “expert” no assunto, momento propício para tê-la em meus abraços e num afago demonstrar-lhe o que eu queria. Não queria apenas um contato em primeiro grau... Queria começar algo. Sair da área das possibilidades e passar para área das ações. Mas perdi aquele segundo tempo sem possibilidade de prorrogação.
Hora mais tarde, toquei-a, ela sorriu e em um tom de humor disse que se eu tentasse algo ela fugiria. Fiquei confuso. Militares não sedem a ameaças, mas as respeitam. Foi o que fiz, acho que respeitei uma brincadeira definindo-a como uma verdade. Não li nas entrelinhas.
O filme acabou e com ele a possibilidade de uma virada. Por Deus, já houvera sentido isso na copa da Alemanha.
No caminho de volta, ela se mostrou irritada, tocando em assuntos e situações que não lhes dizia respeito.
Ao chegar em casa, fui eu quem pediu pra entrar, ela disse que sim ligando para amiga e recrutando sua presença em nosso meio. Fiquei atônito. Queria estar com ela e eu sei que ela sabia disso. Mas por quê da amiga? Medo? Indignação pela minha passividade? Ou a companhia para a sessão acabara ali? Não sei, vagas respostas circundam minha mente.
Fui embora, ela me chamou de teimoso, intransigente e bobo, eu por sua vez agradeci a companhia, elogiei sua beleza e seu perfume e num abraço glacial me despedi.
Amanheceu aquele dia e em minha boca eu podia sentir o gosto amargo das palavras não ditas. Afinal, porque ela fora ao cinema comigo? O que queria? Ficar bem com sua consciência? Apenas isso?
Fui, sou e me nego a prosseguir incontinenti nessa minha mania de acreditar nas pessoas. Acreditei nela, acreditei naquela noite assim como ainda acredito na minha nobre fé.
Meses mais tarde, precisamente há dois meses, vinte e dois dias e dezoito horas ela resolve fazer um contato. Depois de nos cruzarmos duas vezes pelas ruas da cidade e agir da mesma forma, indiferente, tal como ao passar por uma base sólida de iluminação pública; fazendo-me descumprir o propósito que havia concebido.
Disse que se sentiu mal com a minha indiferença; naquele instante o sol esteve a pino, registrando altas temperaturas térmicas, fazendo com que o estilo insensível e pagante com a mesma moeda onerosa viesse a derreter-se instintivamente. Fui à lona, disse do carinho que sentia e de como lamentei o desgaste prematuro. Ela por si pediu perdão e disse ser isso uma página virada, impedindo-me assim de usar como arma de ataque o meu lamento. Disse também, contrario ao seu estilo, que eu... Era para ela uma pessoa única e especial.

Por instantes eu fui o homem mais feliz do mundo; (não reclama e sente o drama) o diálogo foi curto, mas capaz de estender minha estimativa de vida por mais 20 anos.
Sendo que como dizia meu avô que nunca disse nada: “Miséria pouca é bobagem!”, no mesmo dia, alguém de suma importância deixou escapar, ou melhor, me fez arrancar de si uma verdade, a de que todo este relato era na verdade inexistente para ela que se referiu a mim como um objeto de deboche frente à pessoa citada.
Enfim, pior do que estava ficou.
Sem mais porque irritei.
28/07/2008 – 23:38:44:15:06

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