sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

CICLOS

"A conquista é um acaso que talvez dependa
mais das falhas dos vencidos do
que do gênio do vencedor."
( Anne Louise Germaine Necker ) 



Minha lógica hoje não mais legitima todas as minhas ações, dada a incoerência quase que latente entre o discurso e a vivência, mas, mesmo assim, atrevo-me a compor uma base norteadora de minhas idéias que tendenciosamente acabam por se tornarem ações, a assim traçar indefensável registro dos meus dias. Uma construção racional.

 Confesso que a escolha da carreira profissional nunca foi objetivada diretamente pela radiação ética que emana da civilização, ditando regras e tendências modulares, onde o viés econômico e o status social imperam. Até onde consigo lembrar sempre fui criativo com desenhos, textos e articulação de ideias. Se me perguntassem na tenra idade o que queria ser quando crescesse, responderia logo que era ser médico, devido ao descaso  com que era obrigado a conviver sempre que minha mãe fazia uso do serviço de saúde pública.


Já na adolescência, após concluir o ensino médio, trabalhei em uma fábrica de lâmpadas incandescestes, uma micro empresa que fabricava roupas em malha e uma gráfica, sempre atrelado aos irmãos e parentes que “abriam as portas”. Após um período dilacerante de desemprego, já com os sonhos que antes eram cultivados como promessas de conquistas se transformando em tormentos em minha mente, recebi o convite de um amigo para participar juntamente com ele do concurso para a Polícia Militar de Minas Gerais. Ao ser aprovado, fiz um curso técnico de 11 meses onde recebi todas as diretrizes desta nobre profissão. Me tornei um militar (com direito a todos os estragos que ele produz na minha regulação de superego), desejei sentir mais do que apego pela carreira militar, desejei mudar o mundo.

Antes, porém, me recordo agora, que por não estar trabalhando naquele período, dediquei-me inteiramente a participar de um grupo de socorro espiritual de uma igreja evangélica de onde pertencia. O grupo atendia pessoas que sofriam por uma série de condutas e envolvimentos adquiridos em um estilo de vida anterior ao que se propunham doravante.

Fazíamos uma série de orações, com imposição de mãos e declaração positiva de fé. Tudo em nome de Jesus, autoridade maior de onde incidiam todas as nossas diretrizes. Muitas pessoas apresentavam comportamentos característicos de crises psicológicas, ao que denominávamos como possessões demoníacas. Não foram poucos os casos onde éramos acionados antes da Polícia e ao chegarmos ao local, através de orações e confrontos espirituais, expulsávamos as entidades malignas que regiam a conduta de uma determinada pessoa, impedindo assim que um crime ou mal maior ocorresse.  Mas na maioria dos casos, a PM era acionada antes de nós e assim as pessoas que eram molestadas pelas entidades passaram a ser vistas apenas do aspecto racional.

Avançando para a fase militar, eu passei a ver a Paz Social como um ideal, e não como uma utopia. Vi-me as voltas com o processo de combate à criminalidade, até que, já vencido pelo peso do sistema, frustrei minhas ideologias e percebi que a opção era minha em me enxergar como um número. Ali a força do tradicionalismo imperaram sobre meus sonhos.

A todas essas comecei a perceber que nem tudo era resolvido no processo de conversão de conduta, nos pressupostos de um dogma de fé, e que de forma quase antagônica, também não havia progresso só na observância de aspectos legais e morais. Logo, haveria de existir um campo metafísico na junção dos aspectos filosóficos e socioculturais.

Já empregado, decidi incorrer as fileiras acadêmicas, tendo como primeira única opção a Psicologia, buscando alento em aspecto divergente de tudo que havia experimentado.

Cansado de alguns ideais, e com uma ânsia por saber da constituição fenomenológica da humanidade, busquei com afinco entender e absorver cada princípio teórico que mais fazia sentido para mim.

Com muita sobriedade procuro distinguir os pressupostos que orientação minha atuação profissional, ao passo que estou ainda a me encontrar no emaranhado de razões, causas e definições do comportamento e da existência humana.

Certo é que nesse ínterim, faço valer a máxima do caos criativo: Somente beirando uma exposição de conflitos, posso observar melhor a tomada da ordem, ainda que interior.

Chega de viver a sombra de nossos próprios temores... Altruísmo para mim é mais do que uma parcela de dedicação dispensada ao próximo. É saber do próximo quem ele é para por intermédio dele também saber quem eu sou,  e assim,  perceber a riqueza do movimento na gênese da própria essência humana.
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